Desabafo de uma adolescente solitária
Nós morávamos em uma cidade pequena no interior de Rondônia, Brasil. Não era uma das melhores cidades, mas pelo menos tinha a metade dos parentes da minha mãe. Nós mudamos para outra cidade no interior quando eu tinha apenas 3 anos, eu era uma criança curiosa e energética que sempre morou na cidade, nunca tinha visto floresta e mato. Me apaixonei rapidamente por todo aqueles tons de verde que sabia que existia, minha mãe por outro lado, não gostou; estava triste por ficar em uma chácara novamente. Sua vida havia sido infeliz na infância, um pai bêbado e agressivo, muitos irmãos mais novos para cuidar, e uma fazenda para plantar e colher. Eu não sabia sobre seu passado, ela nunca contaria.
Lutamos muitos anos para ter um chácara só nossa, logo nossa casa foi construída. Minha mãe parou de me amamentar por causa de depressão, estava tão magra quanto um graveto. Seu rosto apenas esboçava tristeza e solidão. Não conhecíamos ninguém, era nós duas e seu irmão.
Anos de passaram e a minha mãe melhorou, havia feito amizade com nossas vizinhas. Poucos anos depois eu comecei a frequentar a escola. Eu era apenas uma criança de 5 anos, em um ônibus escolar com desconhecidos, e não conseguia ficar longe de minha mãe. Ela foi obrigada a ir para a escola comigo por meses até eu me acostumar, e isso foi horrível para ela. Não tínhamos nenhum parente que morasse na cidade, ela era obrigada a andar e andar até dar 17:15, o horário que acabava a minha aula. E então, nós duas esperávamos o ônibus escolar.
Quando se é criança a única coisa que você quer; é se enturmar e fazer novos amigos, se sentir aceito. Parece que a única coisa que você quer é que as outras crianças gostem de você, te dêem atenção e te amem, mesmo que você seja uma criança horrível.
Nunca fui do tipo sociável, nem quando criança. Passei a maior parte da minha infância sendo excluída e isso me fez ser introvertida e inquieta. Acredito que isso seja por influência dos professores que me odiavam. Apenas uma professora do primário gostou de mim, a única que me tratou como uma criança de verdade. Além do bullying dos professores os alunos me odiavam por ter dificuldade no aprendizado, coisa que descobri anos depois que foi por influência da dislexia.
Em toda a minha infância eu fui solitária, nunca tive uma amiga verdadeira ou alguém que gostasse de mim. Minha única companhia era a minha mãe. Uma mulher que na época estava sofrendo depressão, e eu não fiz nada para ajudar, não poderia, tinha apenas 5 anos. Mesmo assim, me sinto culpada até hoje, afinal, foi minha culpa.
Quando estava quase fazendo 7 anos, uma coisa horrível me aconteceu. Fui abusada dentro de casa por um parente. Um tio. Alguém que eu confiava. Sinto nojo. Nojo de tudo. Nojo de mim, nojo dele, nojo de toque físico, nojo de homem. Eu apenas sinto nojo. Não consigo olhar para o meu corpo nu. Não gosto de me tocar e nem que me toquem, isso trás lembranças.
Esse incidente ajudou a me tornar oque sou hoje em dia; Uma adolescente solitária com problemas de realidade. Tenho nojo de ter isso no meio das pernas. Eu enrolo meu seios com panos para esconde-lôs, para que ninguém repare que eu os tenho.
Nunca me senti atraída de forma romântica por alguém. Amor é um sentimento estranho para mim. Não o compreendo e nunca vou. Atualmente eu sou Aroace; uma pessoa sem atrações românticas ou sexuais. Estou cursando o segundo ano do ensino médio, e sinceramente, não sei o que fazer com a minha vida.
Muitas vezes penso em simplesmente me matar, mas acredito que não seja tão fácil assim escapar da realidade. Acredito que minha mãe não consiga suportar o luto, afinal, sou sua única filha e tenho apenas 15 anos.
Sinto que estou presa em um ciclo eterno. Minha alma está vivendo as mesma coisas em todas as reencarnações. Talvez um punição? Mas, pelo o que? Não faço ideia.
Os dias parecem cada vez mais sem graça e sem cor. Me sinto mais vazia a cada dia que se passa. Qual a graça de viver se você não sente nada? Me sinto como uma pássaro preso em uma gaiola de ferro maciço, com suas asas cortadas e janela aberta. Me sinto cansada e abalada, nada mais faz sentido para mim. Vou a escola e vejo adolescentes sendo felizes, conversando com seus amigos e rindo sem parar. Confesso que sinto um pouco de inveja. Também quero sentir isso. Agradeço a quem leu esse desabafo, realmente precisava escrever sobre meus sentimentos. Obrigada.